NEM SÓ DE “BOTOX” VIVE A TOXINA BOTULÍNICA
A Toxina Botulínica foi utilizada pela primeira vez na oftalmologia.
Seu primeiro uso foi feito por um oftalmologista para tratamento de uma doença ocular, o estrabismo, em 1973. Era uma alternativa não cirúrgica para os pacientes que apresentavam estrabismo. Somente após 1988 começaram as pesquisas para seu uso nas rugas faciais e ela se tornou o procedimento mais feito no mundo todo.
Desde que começaram os estudos da toxina botulínica, ela mostrou ser um tratamento seguro, eficiente e minimamente invasivo.
Desde então, foi e continua sendo muito utilizada tanto na dermatologia, quanto na oftalmologia e na neurologia também.
Vamos conhecer algumas áreas tanto da medicina como da odontologia em que a Toxina Botulínica é usada para o tratamento de diversas condições e doença.
1 – OFTALMOLOGIA:
ESTRABISMO: é uma patologia oftalmológica que consiste no desalinhamento dos olhos. A pessoa que possui essa condição é popularmente conhecida como “vesga”. A maioria dos casos tem início na infância, mas também pode ocorrer durante a vida adulta.
Observa-se que pacientes estrábicos podem ter problemas psicológicos, sociais e econômicos relacionados ao desvio ocular. É importante tratar o problema, até mesmo porque pode ter impactos sobre a auto-estima e relacionamento social.
Aqui a aplicação é realizada diretamente na musculatura contralateral afetada, induzindo relaxamento do músculo antagonista e equilibrando o desvio.
BLEFAROESPASMOS: como o próprio nome diz, se refere a contração involuntária da pálpebra. É duas vezes mais comum em mulheres e atinge cerca de 0,1% da população. Seus sintomas são:
- Piscar excessivo;
- Contração lenta do olho;
- Contração de músculos faciais;
- Sensibilidade a luz (fotofobia).
O uso da Toxina Botulínica nesta condição melhora muito os sintomas e autoestima do paciente.
2 – NEUROLOGIA:
DISTONIAS MUSCULARES: distonia é um tipo de movimento involuntário que pode ocorrer em qualquer região do corpo de maneira localizada ou mesmo generalizada e se caracteriza por uma contração simultânea de músculos agonistas (favoráveis ao movimento) e antagonistas (desfavoráveis ao movimento). Isto provoca uma postura anormal do segmento do corpo envolvido (cabeça, mão, tronco ou pé) e está frequentemente associado a dor. O torcilcolo é um tipo de distonia
DISFUNÇÃO DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM): a disfunção da ATM dá a sensação ao indivíduo acometido de que sua mandíbula está saltando para fora, fazendo um estalo e até travando por um instante. A causa exata desta disfunção, em geral, é impossível de ser identificada.
Os sintomas são vários e é difícil saber com certeza se você tem disfunção da ATM, porque um destes sintomas ou todos eles podem também estar presentes em outros problemas.
Alguns dos sintomas mais comuns da disfunção da ATM são:
- Dores de cabeça (freqüentemente parecidas com enxaquecas), dores de ouvido, dor e pressão atrás dos olhos;
- Um “clique” ou sensação de desencaixe ao abrir ou fechar a boca;
- Dor ao bocejar, ao abrir muito a boca ou ao mastigar;
Para fazer o diagnóstico precisamos de: história médica e dentária completa, exame clínico e de radiografias adequadas. Nos distúrbios da ATM a aplicação da Toxina Botulínica é eficaz e são realizadas em músculos da face específico com auxilio da eletromiografia.
ENXAQUECA: caracterizada por dores forte de cabeça, com duração de 4 a 72 horas, localizadas, pulsadas, associadas a náuseas e fotofobia. A Toxina é usada como terapia profilática, reduzindo a severidade e a frequência, sem efeitos secundários no sistema nervoso central. Tem-se mostrado eficaz para o tratamento da enxaqueca crônica.
O uso da toxina botulínica na enxaqueca crônica foi aprovada em 2010 pelo FDA (Food and Drug Administration) para a sua prevenção, tornando-se tratamento de secunda escolha para pacientes adultos e que não respondem ao tratamento com medicações.
SIALORRÉIA: também chamada de salivação excessiva é um distúrbio que ocorre muitas vezes devido a boca permanecer aberta. Isso por doenças do sistema nervoso central ou por ter dormido de lado. Em repouso, a saliva se acumula na parte de trás da garganta, desencadeando o reflexo normal de deglutição. A hipersalivação ocorre freqüentemente em crianças saudáveis de um ou dois anos.
Os idosos sofrem mais de hipersalivação porque são mais propensos a sofrer de doenças neurológicas, ou tomam medicamentos que causam aumento da salivação ou por usarem prótese dentária que dificulta a deglutição.
Existe também um tipo de sialorréia emocional em que a hipersalivação é causada por ansiedade ou estresse.
Nos casos em que a sialorréia atrapalha e incomoda, a toxina botulínica pode ser usada aplicando-a diretamente na glândula salivar.
3 – ODONTOLOGIA:
SORRISO GENGIVAL: é um traço da individualidade, mas pode constituir uma característica desagradável e marcante. Ao sorrir, o lábio superior move-se para cima expondo além dos dentes anteriores, a gengiva, o que pode constituir um problema estético.
O sorriso gengival pode ser corrigido pela aplicação da toxina no músculo levantador do lábio superior e da asa do nariz de ambos os lados.
BRUXISMO: é uma condição caracterizada pelo contato não funcional dos dentes da mandíbula e maxila gerando o ranger de dentes e um som característico principalmente quando a pessoa dorme. Isso ocorre devido à contração repetitiva e inconsciente dos músculos masseter e temporal (músculos da face). O resultado é desconforto e dano à dentição.
As causas não são muito definidas, mas podem envolver alteração comportamental, genética ou funcional do sistema nervoso central. Nestes casos específicos, a toxina é aplicada dentro da boca nos músculos específico.
4 – DERMATOLOGIA:
HIPERIDROSE: quando o suor é produzido em quantidade excessiva damos o nome de hiperidrose. Pode acometer 1 – 4 % da população mundial. Esse suor excessivo pode ser generalizado, localizado, simétrico, isto é bilateral ou assimétrico.
A sudorese excessiva pode prejudicar a qualidade de vida das pessoas afetadas, podendo levar a desconforto físico e comprometimento das atividades pessoais e profissionais. Pode provocar desde um simples constrangimento social, por estar usando uma roupa manchada pelo suor, até a necessidade de mudar sua atividade de trabalho.
A hiperidrose pode ser facial, axilar, palmar e plantar.
Em todos esses casos, a toxina botulínica pode ser aplicada com injeção intradérmica no local da sudorese.
ROSÁCEA: é uma doença vascular inflamatória, crônica, geralmente limitada a face. É facilmente confundida com acne e pode coexistir com esta. Tem predileção pela mulher entre 20 a 50 anos de idade, mas pode ocorrer em homens também.
A rosácea é uma doença centro-facial. Começa com um eritema (vermelhidão) localizado na fronte e glabela (testa), nariz e regiões malares (bochechas). Inchaço (edema) também pode estar presente. Inicialmente o eritema é episódico e transitório, isto é, aparece às vezes e some rapidamente. Dentro de meses ou anos pode tornar-se permanente, com formação de telangectasias (vasinhos visíveis na pele da face). Em alguns pacientes, porém poucos, somente telangectasias podem estar presentes. Após isso, pode ocorrer presença de pápulas e pústulas, como na acne.
Atualmente, o tratamento principal inclui medicamentos tópicos como metronidazol e ácido azelaico, antibioticoterapia oral e tratamento a laser com resultados variáveis.
Conforme um estudo publicado no Journal of Drugs in Dermatology em 2012, a toxina botulínica aplicada com injeção intradérmica, pode ser opção inovadora no tratamento da rosácea. Por se tratar de afecção crônica de difícil controle que necessita de tratamento contínuo devido a períodos de exacerbação constante, a toxina pode representar tratamento mais duradouro para essa patologia.
Como vimos, nem só de “BOTOX” vive a Toxina Botulínica.
As diversas utilidades da toxina botulínica vão além da estética. Existem várias doenças dermatológicas ou não que encontram na Toxina Botulínica opção terapêutica eficaz e diferenciada, explorando seu mecanismo de ação e resultados no longo prazo.
Ela também é muito usada em outras áreas fora da medicina, como odontologia, para controle ou tratamento de distúrbios que atrapalham a vida social ou pessoal de pacientes.
