O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE PRODUTOS COSMÉTICOS
Você conhece os produtos, para a pele, que você usa? Sabe se eles são seguros? Como estes produtos são testados antes de serem vendidos?
Hoje vou te contar como são testados estes produtos e o que devemos saber antes de comprá-los.
SEGURANÇA DE PRODUTOS COSMÉTICOS
Produto cosmético é toda substância que pode ser aplicada na superfície do corpo com a finalidade de limpar, alterar a aparência, embelezar ou realçar o atrativo de uma pessoa e até mesmo tratar alguma condição da pele, mucosa ou couro cabeludo. Por isso, quando falamos em produto cosmético estamos englobando produtos de higiene pessoal, perfumes, maquiagens, cremes, etc.
Há milhares de anos homens e mulheres utilizam produtos cosméticos. Praticamente a história dos produtos cosméticos coincide com a história da humanidade. No século XIX com o início do capitalismo industrial e financeiro e a criação do consumidor, a indústria colocou os produtos cosméticos como necessidade básica. Devido a isso, houve a necessidade da produção de produtos cosméticos mais seguros para a população.
Todos os produtos cosméticos, seja, cremes, protetores solares, shampos, sabonetes, etc, devem ser testados antes de serem comercializados. A sua segurança deve ser garantida a partir da seleção das matérias primas utilizadas na sua produção.
Alguma vez vocês já pararam para pensar em quantos produtos cosméticos um consumidor utiliza por dia ? Segundo uma pesquisa realizada pela ABHIPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumes e Cosméticos) entramos em contato com mais ou menos 20 diferentes produtos por dia (por exemplo: creme dental, sabonete, shampo, condicionador, creme para pentear, batom, desodorante, esmalte, perfume, protetor solar, etc). Se cada um desses produtos contem pelo menos 10 ingredientes diferentes, o consumidor está exposto em um só dia a mais de 200 compostos químicos de natureza e comportamentos específicos, Por isso, é fundamental que esses produtos sejam seguros.
REAÇÕES ADVERSAS A PRODUTOS COSMÉTICOS
O primeiro registro de acidente grave com uso de produtos cosméticos ocorreu na França na década de 1950, com o uso de talco infantil contendo o anti-séptico hexaclorofeno, cuja concentração (dez vezes superior ao valor normal), por erro na fabricação em determinado lote, resultou na morte de dezenas de crianças. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso de hexaclorofeno em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Durante as últimas décadas, muitos outros ingredientes foram eliminados da lista de produtos seguros para uso em cosméticos em todo o mundo.
No Brasil, conforme as leis do Ministério da Saúde através da ANVISA, os fabricantes precisam realizar testes clínicos de segurança em humanos antes da comercialização de seus produtos, a fim de assegurar a saúde dos consumidores, o desenvolvimento de produtos com o máximo de segurança e o menor risco de reações adversas e maior credibilidade e confiança à empresa junto aos consumidores.
Considera reação adversa qualquer sinal ou sintoma desencadeado por um produto tópico usado de maneira correta. Entre as reações adversas cutâneas provocadas por estes produtos, destacam-se a dermatite eczematosa de contato (por irritação ou alergia), erupções foliculares e acneiformes, miliária e alterações pigmentares.
DERMATITE DE CONTATO A PRODUTO COSMÉTICOS
Um estudo feito pela Sociedade Brasileira de Dermatologia concluiu que a dermatite de contato está entre as 5 principais doenças de pele do Brasil. Não é possível discriminar a causa da dermatite de contato mas é possível afirmar que os produtos cosméticos (englobando produtos de higiene pessoal e perfumes), são uma das causas mais importantes. Por isso, a dermatite de contato é o efeito colateral mais comum induzido por cosméticos.
O eczema de contato ou dermatite de contato é uma dermatose de etiologia exógena, causada por agentes agressores externos que, em contato com a pele, desencadeiam uma reação inflamatória, clinicamente caracterizada por se apresentar como um eczema.
Manifesta-se por eritemas que causam ardor e prurido (coceira) na pele, podendo apresentar microvesículas e descamação. Pode ser estabelecida através de quatro mecanismos fundamentais: irritante primário ou acumulado, sensibilização ou alérgica, fototóxico e fotoalérgico. Estas inflamações afetam de 3 a 4% da população adulta, sendo que a incidência varia de país para país de acordo com o grau de industrialização, costumes, entre outros.
O início das reações irritantes ou alérgicas depois de exposição da substância tópica é variável. A lesão da pele fica evidente dentro de horas após o contato com um irritante forte. Os irritantes mais fracos podem exigir aplicações múltiplas e dias ou semanas até o desenvolvimento do eczema. O seu aparecimento depende das características da substância irritante, do tempo de exposição e da periodicidade do contato com o agente irritante. Sabe-se que 10% da população adulta tem alguma reação leve a cosméticos em algum momento da vida.
TESTES DE SEGURANÇA DE PRODUTOS COSMÉTICOS
Nos últimos anos, a indústria cosmética e farmacêutica tem crescido consideravelmente, assim como o seu interesse no desenvolvimento de produtos eficazes e seguros. A criação do Código de Defesa do Consumidor, as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e a própria concorrência levaram a indústria a tomar uma atitude mais cautelosa no que diz respeito à ação e aos benefícios dos seus produtos, procurando associar suas afirmações a trabalhos científicos.
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS COSMÉTICOS SEGUROS
A conscientização da indústria e as exigências do consumidor resultaram na adoção de um novo procedimento por parte dos fabricantes de cosméticos. Atualmente, devido aos notáveis avanços ocorridos na Toxicologia, que tem regulamentado a evolução da indústria cosmética em todo o mundo, para garantir produtos seguros, as empresas realizam, antes da comercialização, testes clínicos de segurança e eficácia de seus produtos. A avaliação da segurança deve preceder a colocação do produto cosmético no mercado.
A empresa é responsável pela segurança do produto cosmético, conforme assegurado pelo Termo de Responsabilidade apresentado, onde a mesma declara possuir dados comprobatórios que atestam a eficácia e segurança de seus produtos. Uma vez que o produto cosmético é de livre acesso ao consumidor, o mesmo deve ser seguro nas condições normais ou razoavelmente previsíveis de uso. A busca dessa segurança deve incorporar permanentemente o avanço do estado da arte da ciência cosmética.
Existem vários tipos de testes para garantir a segurança de um produto cosmético, o que depende do tipo de produto testado. Mas o básico, que todo produto deve ter, são avaliações quanto aos potenciais alergênicos e de irritabilidade. Depois, dependendo do produto, são feitos outros tipos de testes.
Então, como os principais riscos potenciais do uso de um novo produto são a irritação e a alergia por sensibilização, na pesquisa básica de segurança de um produto estão envolvidos testes clínicos para irritação cutânea primária, irritação cutânea acumulada e sensibilização cutânea (alergia). Este conjunto de testes é chamado de Ensaio de Compatibilidade Cutânea e tem por objetivo comprovar que um produto é inofensivo em pele humana, isto é, não causa alergia ou irritações.
ENSAIOS DE COMPATIBILIDADE CUTÂNEA DE PRODUTOS COSMÉTICOS
Os Ensaios de Compatibilidade Cutânea, como vimos, têm por objetivo comprovar a inocuidade dos produtos em pele humana. São realizados, de um modo geral, em voluntários (pessoas que participam de pesquisas), em laboratórios de pesquisas específicos para isso, onde são utilizados Patch Tests. Representam o primeiro contato do produto acabado com um ser humano.
Há várias metodologias e critérios de avaliação na literatura. Os testes realizados com seres humanos são regulamentados segundo leis bastante rígidas, com o objetivo de proteger e resguardar os indivíduos. Estas leis variam de acordo com o país. No Brasil, estas pesquisas são permitidas, desde que tenham protocolos aprovados por uma Comissão de Ética Médica e sigam os preceitos da Declaração de Helsinque.
O teste de compatibilidade cutânea de um produto consiste em aplicações repetidas do produto, que se quer testar, na pele, através de patch test, e têm o objetivo de detectar possíveis irritações ou indução de sensibilização (alergia) na pele. Os patch tests ou testes de contato são apósitos oclusivos dispostos em uma fita adesiva e que são colocados nas costas do voluntário por ser uma área homogênea do corpo facilitando a avaliação do produto teste. Esses apósitos oclusivos têm a vantagem de quando removidos, deixarem marcas bem individualizadas no ponto do teste cutâneo e permitem ainda contato uniforme com a pele.
A observação da irritação no local do teste oferece, em geral, aspectos diferenciais das respostas alérgicas. Os irritantes tendem a produzir reações com bordas bem definidas entre a pele normal e a inflamada, raras vezes desencadeiam vesiculação, e o que se nota é aparência brilhante. Ao contrário da resposta alérgica, a reação pro irritação tende a diminuir com a remoção do teste; entretanto, a distinção entre reação alérgica e irritação nem sempre é absoluta e possível.
O potencial de irritação de um produto depende de uma série de variáveis, como componentes utilizados, concentração dos ingredientes, absorção, quantidade aplicada, estado da pele, modo e freqüência de aplicação e efeito cumulativo.
Se o produto for aprovado nos testes de contato, é importante proceder a testes de uso, com o produto acabado, antes da sua introdução no mercado. A empresa toma conhecimento das possíveis considerações e queixas que surgirão durante a comercialização do produto, podendo desenvolver estratégias, como, por exemplo, o treinamento específico do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), previamente ao lançamento do produto.
PRODUTOS COSMÉTICOS SEGUROS
Devido a todos os dados citados anteriormente, levando em consideração que não existe ingrediente químico absolutamente seguro e que não existe nenhum produto que garanta 100% de eficiência em não causar alergia, um produto é considerado seguro, e liberado para comercialização, se apresentar teste de Compatibilidade Cutânea negativo em 95% dos pacientes testados, desde que as reações adversas encontradas sejam leves, isto é, não significativas. Ou seja, qualquer produto cosmético poderá apresentar alguma reação adversa dentro de uma faixa de população estreita com probabilidade de 5%. Nenhum protocolo clínico pode garantir 100% de confiança.
Se o produto cosmético apresentar uma boa compatibilidade cutânea, por extrapolação poderá ser considerado seguro para a saúde dos consumidores quando aplicado sob condições normais de uso.
Com isso, na hora de comprar produtos cosméticos, de qualquer natureza, é importante sabermos se ele foi testado, se a marca ou empresa é conhecida e bem conceituada e se é seguro para utilização. Somente assim conseguimos evitar reações indesejadas. Mesmo assim, existe uma considerável variação individual, independente da concentração da substância testada. Sabe-se que a suscetibilidade à irritação pode ser influenciada por idade, raça, antecedentes genéticos, etc.